Um dos maiores
receios do condutor de moto é quando está pilotando debaixo de chuva, ou
seja, em pista molhada. Sim, é normal sentir medo e este medo é
essencial para a proteção do piloto. O medo é um dos componentes que
impedem que você faça bobagens e se coloque em risco. Porém, fique
calmo! Deve-se sentir medo no sentido de respeito a esta condição
adversa de tempo. Porém não há necessidade de “travar” e deixar de
pilotar por causa disso.
Dilúvio ou pista úmida, há algo entre os pneus de sua moto e o asfalto; cuidado |
Vamos então entender alguns conceitos sobre pista molhada, quantidade de
chuva que cai, desenho dos pneus para enfrentar este clima e
principalmente as técnicas de pilotagem na chuva.
Asfalto colorido: Óleo e outros detritos estão escondidos sob a água da chuva |
Na pista molhada o que mais importa não é a quantidade de chuva
que cai nem a quantidade de água que está na pista, mas o que se
esconde debaixo dela, como óleo, detritos soltos, acúmulo de poeira e
sujeira diversas. A água os sulcos (desenhos) do pneu conseguem jogar
para fora, mas a sujeira não. Também, a borracha do pneu pode absorver a
umidade, dependendo do composto misturado na borracha. Assim, fique
atento à quantidade de chuva que lava a pista. Sim, eu disse LAVAR A PISTA.
O pior momento da chuva é o seu começo, aquela chuvinha
mixuruca, “molha bobo” que só deixa o asfalto molhado, assim meio
“ensaboado” e muito escorregadio sem o poder de lavar a via. Também
existe um efeito psicológico no piloto que pode acreditar que só porque a
chuva é pouca e o pneu está novo, não há necessidade de diminuir a
velocidade e isso é um erro. Entenda que quando a quantidade de chuva
for maior e mais forte, geralmente a pista é lavada e seus detritos e
sujeiras são jogados para fora, nos cantos das vias.
Portanto, embora pareça contradição, é mais seguro pilotar com chuva
forte –pista lavada – do que com pouca chuva – pista suja – pois o que
torna a pista mais escorregadia e que facilita os escorregões são os
detritos que só desgrudaram do solo, mas ficam ali, esperando por um
pneu passar por eles. Claro, isso não significa que você deva andar sob
chuva forte da mesma maneira que anda com pista seca. Lembre-se que
estamos falando de pista molhada, em maior ou menor intensidade.
Cada tipo de pneu tem suas características e comportam diferentemente sob chuva |
Assim, o desenvolvimento de pneus mistura desenho (sulcos) com o tipo de borracha e o tipo de moto. Para motos trail
os pneus possuem sulcos profundos e largos com a intenção de tirar a
água da frente dos pneus e travar a moto em situações de terra e lama.
Não é um pneu para velocidade, mas para performance em estradas de
asfalto e terra.
Para as custom os pneus possuem borracha geralmente
mais dura, com a intenção de aumentar a durabilidade, com sulcos
desenhados para somente tirar a água, sem o objetivo de permitirem
grande velocidade ou pilotagem em terra. Deve-se entender que estes
pneus são mais “quadrados” e podem facilitar a aquaplanagem (ou
hidroplanagem), que é aquele momento em que o pneu flutua numa camada ou
lâmina d’água onde a profundidade dos sulcos dos pneus não é suficiente
para retirar a água do caminho.
Os pneus mais largos e quadrados tem maior possibilidade de aquaplanar.
Um detalhe importante nestes casos é a importância de os pneus dianteiro e traseiro serem do mesmo modelo e marca,
pois os sulcos do pneu traseiro complementam o trabalho do pneu
dianteiro de retirar a água do caminho. Lembre-se também que os pneus
não se desgastam igualmente e a profundidade dos sulcos podem ser
diferentes e isso determina maior ou menor capacidade de tirar a água do
caminho.
Sem competição: a maioria dos pneus possuem características médias de desempenho, tanto na chuva quanto na pista seca |
Para as motos com perfil para velocidade maiores (sport,
street, naked e sport-turing), sobretudo as de média e alta cilindrada,
os pneus são mais “bicudos” e tem sulcos apropriados para tirar a água e
ao mesmo tempo aumentar a velocidade em retas e curvas. Porém, não
podemos nos esquecer que estes pneus em sua borda (ombro do pneu ou
borda de ataque) tem compostos de borracha mais moles, quase do tipo
slick. Portanto, cuidado com as inclinações mais acentuadas, pois este
tipo de borracha mais lisa e mole nas laterais não gosta nada de água.
Pneus para motos esportivas quase não tem sucos: pouca capacidade de drenar a água da pista |
Apesar de a temperatura dos pneus ser decisiva na aderência em pista
seca, na pista molhada esse efeito é quase neutralizado ou nulo. Nas
motos superesportivas a intenção das fábricas é desenhar pneus o mínimo
de sulcos, pois a velocidade é o principal objetivo. Por isso, por
favor, vá com calma na chuva. Aliás, a calma em situações de pista
molhada, deve estar presente para os proprietários de qualquer tipo de
moto. Dessa forma, as técnicas de pilotagem na chuva serão mais bem
aplicadas.
Técnicas de pilotagem na chuva
Conhecer os detalhes descritos até aqui é essencial para se adaptar ao
solo molhado. Deve-se lembrar que estamos falando de pista de asfalto
molhado, com técnicas de pilotagem urbana e estradeira, muito diferentes
com as técnicas esportivas, onde pneu e ciclística das motos são
totalmente diferentes da realidade do motociclista comum.
Seu comportamento em pista molhada deve ser diferente: Atenção, prudência e velocidade menor são fundamentais |
Assim, adapte-se e ajuste seu posicionamento, onde a
moto deve inclinar menos do que o corpo do condutor em curvas mais
fechadas. Em curvas mais abertas, evite inclinações mais acentuadas para
não atingir as laterais dos pneus, onde estão a borracha mais lisa e
mole dos pneus, e neutralize a força centrífuga com velocidades menores.
Evite manobras bruscas, como desvios
rápidos e frenagens fortes. Falando em frenagens, aí está a maior
dificuldade na pilotagem. Se já é difícil em pista seca, imagine em
pista molhada. Um dos segredos de frenagens mais eficientes e sem riscos
está na maneira de forçar o manete ou o pedal. Frear não é uma questão de força repentina, mas sim de força progressiva. Ou seja, aumente a força no pedal e no manete de freio aos poucos e nunca toda a força bruscamente.
Esta técnica é aconselhada em pista seca e em pista molhada a
progressividade deve ser ainda maior. Desse modo, percebe-se que a
melhor maneira de evitar um acidente por causa de derrapagens em curvas
ou em frenagens é seguir em velocidades mais baixas do que usadas em
pista seca. Abuse do freio motor nas desacelerações para que os freios dianteiro e traseiro sejam usados com mais suavidade, principalmente nas curvas.
Evite reduções de marchas em curvas e cuidado com faixas e sinalizações
pintadas no solo, que são mais escorregadias do que o asfalto. Se um
carro estiver a sua frente, procure colocar os pneus da moto na faixa
deixada pelos pneus do carro pois eles estão “limpando” a pista para
você. Mas fique distante do carro. Saia da frente de veículos muito
próximos de sua moto pois o motorista pode não saber frear em condições de chuva.
E se em condições normais, fazer com que os outros vejam você é
fundamental, sob chuva isso é uma condição de sobrevivência. Se
necessário, use o farol alto para chamar a atenção dos outros. E não se
esqueça que para nós motociclistas, depois da tempestade pode até vir a bonanza, mas ela vem acompanhada da pista molhada.
Fonte: http://www.motonline.com.br - Carlos Amaral é instrutor de pilotagem defensiva, instrutor de trânsito
do Detran-SP na especialidade Direção Defensiva, palestrante da Porto
Seguro Cia de Seguros Gerais, blogueiro e diretor operacional da Carlos
Amaral & Zuliani Motorcycle Training / Fotos de Geórgia Zuliani, em
curso de pilotagem defensiva da Carlos Amaral & Zuliani Motorcycle
Training.
By Tchê AJ
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