Pode parecer óbvio, mas é bom lembrar que nenhum motor a combustão
interna consegue mover uma moto sem um sistema de câmbio. Ele precisa de
muita rotação para ter força e ainda, a gama de rotações em que ele
trabalha não é suficiente para levar a moto da imobilidade até a
velocidade máxima.
O cambio da motocicleta parece simples. Essa alavanquinha é apenas a
ponta mais visível desse sistema que transforma a velocidade da rotação do motor em movimento da motocicleta |
Por isso precisamos do câmbio. Nas motos eles devem ser pequenos, leves e devem suportar muita força em cada marcha. Por essas e outras qualidades, na maioria dos casos se usa o câmbio de engrenamento constante (“constant mesh” em inglês). Isso quer dizer que todas as engrenagens viram engrenadas o tempo todo. Porém, como cada marcha deve virar em velocidades diferentes, cada uma tem que virar livremente quando não estiver em uso.
Assim, não é possível engatar duas ou mais engrenagens ao mesmo tempo,
pois isso faz com que a caixa de câmbio exploda já que os tamanhos
diferentes destas engrenagens torna o movimento do eixo do motor
impossível. O eixo que vem do motor é o primário e o eixo que leva a
força para a roda chamamos de secundário, porque ele muda de velocidade a
cada troca de marcha.
Vista explodida de um câmbio típico de seis marchas |
O eixo primário recebe a força proveniente da embreagem, que por sua vez
foi movida pela transmissão primária. Essa transmissão serve para
adequar a rotação do eixo do motor à rotação do eixo primário do câmbio,
que sai da embreagem. Nesse eixo estão fixadas as rodinhas dentadas de
forma que algumas viram soltas sobre seu eixo e outras são tracionadas
por ele por meio de encaixes ou estrias. São estas que permitem um
deslizamento lateral, mas fazem com que girem junto com o seu eixo e
isso é importantíssimo para se efetuar as mudanças de marcha como vamos
ver mais adiante.
As engrenagens do câmbio de moto são montadas em pares. Cada par tem
uma engrenagem fixada a um dos eixos e a outra roda livre sobre o outro
eixo. Assim se torna possível a montagem do sistema constantemente
engrenado. Em neutro, todas que estão solidárias com o movimento do eixo
primário viram junto com ele, sendo que as que são solidárias ao eixo
secundário permanecem imóveis porque sempre há uma do par, virando
livre sobre um dos eixos. Nesta situação, o câmbio está no neutro. Então
vamos ver como se dão os engates.
Vista de um câmbio típico de seis marchas - Uma das engrenagens vira livre no eixo. Para engatar, ela se trava ao eixo por intermédio da sua vizinha que desliza pelas estrias do eixo, ao seu encontro. O engate se dá por meio de ressaltos ou furos no corpo lateral das rodas dentadas |
As engrenagens estriadas viram junto com o seu eixo mas podem deslizar para os lados |
Para mover a engrenagem que desliza para o acoplamento dos ressaltos
laterais existem pequenos garfos que fazem esse movimento, determinado
pela rotação do cilindro do trambulador. Esse cilindro tem canaletas com
um desenho tal, que ao girar, o garfinho é guiado por um pino nessa
canaleta para executar o seu movimento lateral. Na verdade, cada garfo
pode executar mais de um engate, porque se mover para o outro lado ele
pode acoplar o par do outro lado também. Assim, no projeto de cada
câmbio, em relação à quantidade de marchas, esses garfinhos fazem um ou
dois engates, conforme necessário. Num câmbio de marchas pares todos os
garfinhos fazem engates pelos dois lados e, ao contrário, em câmbios de
número de marchas ímpares um dos garfos só se movimenta para um dos
lados.
Ao girar, o cilindro move o garfinho que tem um pino na canaleta para que a engrenagem deslizante se mova para um lado ou para o outro fazendo o engate |
Para a rotação do cilindro do trambulador há um mecanismo de alavancas,
molas e pinos em que o movimento do pedal do câmbio é transformado em um
movimento de rotação no cilindro para que os garfinhos se movam para um
lado ou para o outro, subindo ou descendo de marcha. Esse sistema, que
executa essa função, de acionar os garfinhos, varia bastante o seu
desenho, de marca para marca, modelo para modelo. Cada um procurando um
sistema mais leve, mais rápido, mais preciso, compacto e resistente para
um melhor funcionamento e durabilidade. O desenvolvimento, materiais
utilizados e precisão na fabricação desse mecanismo é de extrema
importância para determinar a durabilidade do câmbio e ainda ter boas
características de velocidade na troca de marcha e leveza no
acionamento.
O câmbio de uma moto é um sistema de construção delicada e de muita
precisão. Pequeno desgaste nas canaletas das engrenagens, patinhas dos
garfos ou no sulco do cilindro vai provocar folgas e um funcionamento
irregular com marchas que se soltam ou que não entram direito. Esses
defeitos podem culminar com o engate simultâneo de duas marchas ao mesmo
tempo. Isso pode destruir o câmbio por completo.
Agora que você sabe como funciona o câmbio da sua moto você não vai
deixar passar a hora da troca do óleo. O barato sai muito mais caro.
Fonte: http://www.motonline.com.br
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